terça-feira, maio 30, 2006

Ausências...

«A ausência degrada as pequenas paixões e fortalece as grandes, tal como o vento apaga a vela e atiça a fogueira»
François, Duque de la Rochefoucauld, 1613-1680)

[Lido no livro «A Lei de Todas as Coisas - Uma explicação para quase tudo», de Richard Robinson, editora Verso da Kapa] [Obrigado F.]

domingo, maio 28, 2006

Esta história é da tia Ivone. É verdadeira!!!


A minha mãe escreveu este texto para enviar para um concurso de uma revista que pedia uma história verídica e contada na primeira pessoa!!!! Ora leiam. É mesmo verdade!



"Férias… com açorda de coentros!"


"Naquele luminoso Abril de 69 eram as nossas primeiras férias de Páscoa como professoras. Durante o curso conhecêramos o Pe Fatela, criador da Casa do Estudante de Beja, obra social para jovens carenciados e surgira o convite para uns dias passados na instituição.
Era o tempo certo: independência económica, uns dias livres, uma primavera florida e soalheira, a alma cheia de sonhos e desejos de aventuras. Contactos feitos, alguém nos esperaria na estação de Beja à hora da chegada do comboio.
Foi assim que a Mariazinha e eu, amigas de longa data e colegas de curso, embarcámos no Entroncamento num daqueles ronceiros comboios de tanf… tanf…pouca terra…pouca terra…
Tudo constituía uma alvoroçada novidade para as jovens provincianas pouco viajadas que da linha do sul conheciam apenas o risquinho a preto no mapa de Portugal. Entre o trajecto de Santa Apolónia, barco e Barreiro, atraso nosso ou da “conjuntura”, perdemos o comboio que nos levaria ao destino. Como havia outro horas depois lá partimos confiantes. Consequentemente chegámos tarde, noite escura, e ninguém à nossa espera. Era longínqua ainda a era das comunicações. A minha amiga é bastante despistada, nunca sabe as horas e não acerta com os pontos cardeais mas confia fielmente em mim. Coube-me tomar as decisões.
Fomos de táxi até à morada que nos acolheria e, para nosso espanto, o escuro e o silêncio foram as únicas respostas ao trrim- trrim duma campainha nervosamente premida. Sem outra solução, pedi ao taxista que nos levasse a dormir numa casa “decente” ( este adjectivo tem desde então conotações que evocam essa noite única ). Homem alentejano de poucas falas mas de alma limpa, o taxista não hesitou. Quando começámos a sair da cidade confesso que fiquei deverás aterrada sem saber o que nos aconteceria mas esperei calada tentando que a minha amiga não entrasse em pânico. Passado algum tempo parámos à porta de uma silhueta clara em noite escura: Um convento de freiras. Seria cerca da meia noite, a comunidade estava já recolhida e foi precisa uma grande insistência do nosso taxista e a plausível história de não poder deixar duas meninas largadas na perigosa noite da cidade para que os portões se abrissem.
Recordo um longo corredor de casarão antigo com portas dos dois lados. À minha companheira foi distribuído um quarto no princípio do corredor à direita. Tinha ar de ser um quarto de visitas com uma cama larguinha, alguns móveis e uma coberta florida. A mim coube-me o último ao fundo à esquerda. Era um quarto modesto, despido de enfeites mas acolhedor. Ainda não estava devidamente instalada e eis que a Mariazinha chega ao meu quarto dizendo que tinha medo de ficar sozinha, que amachucara os lençóis para fingir que dormia lá mas que queria ficar comigo. A cama era estreita mas lá nos acomodámos. Tão fora de horas ninguém nos perguntou se tínhamos jantado e só agora com um tecto assegurado nos deu para sentir uma fome lupina em que nem tínhamos reparado. Repartimos uma daquelas barrinhas de amendoim com mel, a única, o que nem com muita imaginação chega a ser um jantar frugal. Olhámos o tecto alto em caixotões de madeira pintada de cinzento claro, a janela de enormes ferrolhos, rimo-nos divertidas com a ideia de que ninguém, nem a polícia, nos descobriria ali e adormecemos.
A meio da noite a minha amiga vai à casa de banho. Pergunto-lhe se quer que eu deixe a luz acesa mas ela não acha necessário.
Despistada como sempre, no regresso, entra num quarto que não era o meu, enfia-se na cama de uma freira abraça-se a ela e diz-lhe: - “elas a pensarem que eu estou a dormir sozinha e eu aqui bem quentinha abraçadinha a ti!”
Como a companheira não reagisse ( sabe Deus o susto da boa da freira ) percebe o engano, salta da cama e vem então a correr para o meu quarto.
Na manhã seguinte com algum constrangimento da nossa parte e com muita simpatia da parte das irmãs, serviram-nos o pequeno almoço conversando connosco sobre quem éramos e o que fazíamos. Penso que tínhamos um ar credível e as irmãs certamente ficaram com boa impressão nossa. Nunca saberemos se mais alguém no convento conheceu a história além da freira “assaltada”.
Esta foi a única vez que professámos!
Foram ainda as irmãs que contactaram o nosso anfitrião que nos levou para a quinta de Sta Bárbara, lugar de férias dos jovens da casa do estudante. Com eles passámos uns dias inesquecíveis. Na quinta, perto da base aérea, havia animais que tratávamos e havia a doce e pachorrenta Sra Catarina, a cozinheira, que fazia uma açorda de coentros inigualável. Belos passeios que demos por esse Alentejo até à beira do Guadiana com encostas de estevas de enormes flores de seda branca com cinco pontos negros e um luminoso olho amarelo cujo aroma atravessou o tempo e permanece connosco. "

Maria Ivone Lopes de Deus Mendes Cerejo

sexta-feira, maio 05, 2006

Tempo...

Pois é, apesar das férias, a gestora deste blogue tem andado ocupada com as limpezas, a chica, o marido, o remo e os gajos que lá vão cravar o jantar de vez em quando... (não necessariamente por esta ordem). Por isto tudo, não tem tempo para actualizar o Coisas com barbas... Mas há a promessa do seu regresso dentro de horas...